sexta-feira, 28 de outubro de 2011

 


Joaquim Luis Ramos
Nasceu no Alqueva, Portel, em 1926
Poeta popular.






As migalhas dos pobres
Do seu salário rirados
Fazem ricos e brugueses
Fidalgos e morgados

Quando morre é esqueciso
E na terra sepultado
As migalhas dos pobres
do seu salário tirado

É o braço do pobre
É quem cria a riqueza
Tudo lhe tiram não de dão nada
É sempre dele a pobreza

Podia ser mas não é
Para todos o mundo uma beleza
É o braço do pobre
É quem cria a riqueza

sábado, 22 de outubro de 2011





António Gedeão - pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama Carvalho
Nasceu em Lisboa a 24 de Novembro de 1906
Poeta e Professor




Quando Choro

Eu quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.



terça-feira, 18 de outubro de 2011


                                               


Manuel Alegre de Melo Duarte
nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda.
Escritor e Poeta
Foi candidato a Presidente da República


                                               

As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.





quinta-feira, 13 de outubro de 2011




Escritor e poeta
Carlos de Oliveira, nasceu em Belém do Pará, Brasil
a 10 de Agosto de 1921,
Veio para Portugal com 2 anos de idade


Nevoeiro

A cidade caía
casa a casa
do céu sobre as colinas,
construida de cima para baixo
por chuvas e neblinas,
encontrava
a outra cidade que subia
do chão com o luar
das janelas acesas
e no ar
o choque as destruía
silenciosamente,
de modo que se via
apenas a cidade  inexistente.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011




Fernando pinheiro, nasceu na Ucha,
Barcelos, em 1949.
É autor duma Obra multifacetada
que vai da poesia ao romance.
Tem um percurso admirável pelo teatro





Baixo-Relevo

Tenho o talhe duro do granito
que aflora no cume da montanha
e no horizonte permanece altivo
por sóis, chuvas e vento fustigado

Sou deste sítio de encantamento
onde vivo firma com um carvalho
unido à Terra do Sentimento
pra cumprir obediente o meu fado

Burilou o Tempo estes sinais
que trago esculpidos no meu corpo
linhas, perfis, fontes naturais

e na alma uma cruz gravada a fogo.
Passai a mão neste baixo-relevo:
Levai-me convosco na ponta dos dedos

                                             * Oratório Profano

terça-feira, 11 de outubro de 2011


 

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas Rato.
Nasceu na Atalaia, Fondão, a 19 de Janeiro de 1923.
 Autor de uma fabulosa obra poética









Respiro o teu corpo
Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer
sabe a cal molhada
sabe a luz mordida
sabe a brisa nua
ao sangue dos rios
sabe a rosa louca
ao caír da noite
sabe a pedra amarga
sabe à minha boca

domingo, 9 de outubro de 2011




Sebastião Alba - pseudónimo 
de Dinis Albano Carneiro Gonçalves
Nasceu em Braga a 11 de Março 1940
Poeta sem abrigo.
É autor de uma considerável obra poética




Os Bruxos


Em alguns de nós, o olhar
queda-se paralelo
ao do mocho
que há muito do ombro
nos voou.


Estas pálpebras
humedecem os olhos
como ninguém o faz
a uma fronte.


Em seu reduto,velam


reparando
a luz das trevas




sábado, 8 de outubro de 2011

                                                    


José Carlos Ary dos Santos
nasceu em Lisboa, a 7 de Dezembro de 1936.
Poeta e talentoso Declamador
venceu, entre outros prémios, o festival RTP da canção





De Palavras

De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pre-feitos blocos de cimento.

De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso, a consciência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.

De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro do que digo.

Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
expressão da multidão que está comigo.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011


Jerónimo Fernandes (Jerónimo)
nasceu em S. Julião de Passos, Braga
a 14 de Outubro de 1935
Artista plástico e poeta
é autor de uma fabulosa obra




O meu universo

Tenho um universo
meu.
Só meu.
Não se passa
não se vende
nem lhe ponho escritos na janela
nem nos jornais anuncio: «pr'alugar»...

O universo sou eu.
Só eu
e cá dentro (pra morar)
Só eu

Egoismo?
Não!
Venha daí alguém
      que me queira amar...

terça-feira, 4 de outubro de 2011



Sofia de Melo Breyner Andresen
nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919
Recebeu vários prémios literários
donde se destaca o Prémio Camões - 1999
Depois do 25 de Abril, foi deputada à Assembleia Constituinte


                      III

Á luz do aparecer a madrugada
Iluminava o côncavo de ausencias
Velas a demandar estas paragens

Aqui desceram as âncoras escuras
Daqueles que vieram procurando
O rosto real de todas as figuras
E ousaram  - aventura a mais incrível  -
Viver a incerteza do possível

                                 *    Navegações

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Nascido em Mangualde, em 1940
Jorge Ulisses possui o curso complementar de Escultura
da Escola Superior de Belas Artes do Porto.
Tem inúmeras exposições individuais e colectivas
em  Portugal e no Estrangeiro.
Está representado em colecções públicas e privadas
na Europa e nos EUA



Cena Infantil - 1982

domingo, 2 de outubro de 2011

                       
Ficcionista e poeta, Jaime Ferreri
nasceu em Bravães, Ponte da Barca, em 1946.
Professor e encenador,
tem um percurso literário brilhante
em que predomina o romance





Pecado

Pediste-me um poema...
Mas se um poema meu 
rimasse contigo
num beijo terno
ou num abraço longo
sentiria a percorre-me o corpo
o sentido do pecado
com que, ladina, me adivinhas...
com que, Eva, me tentas...


            * Pecúlio
               Jaime Ferreri





sábado, 1 de outubro de 2011




Cláudio Lima é pseudónimo de Manuel da Silva Alves.
É natural de Calvelo, Ponte de Lima.
Nasceu em Abril de 1943.
Dado à poesia e à prosa, é autor de uma larga obra
de elevado nível literário.









o eco dos limos
sabem a lágrimas de marujos ternos
as longas franjas de seus braços mortos


descompostos como velhas mães
sacrificam na praia os seus presságios


o frescor ácido de seu corpo mole
é a química provisória dos naufrágios

                           Cláudio Lima  (A Foz Das Palavras)