vai menino meu
vai, menino
meu, vai. entra na densa floresta. protege as árvores e as aves, recebe a brisa
que te beija o rosto, leva na algibeira todas as palavras que aprendeste e um
rio entre as mãos para acudires às manhãs feridas de cansaço.
vai, menino
meu, não enumeres os passos nem as estrelas que hás de calçar, uma a uma,
reféns das sandálias cozidas pelo tempo. vai, coloca o olhar à tua exacta
medida para domares as feras que atacam a floresta e não te deixes dominar por
elas.
segue a rota
dos meus poemas. lê-os, um a um, em voz alta para acordares os meninos que morrem
nos campos de refugiados. segue, passo a passo, o trilho sinuoso dos meus
versos, onde o sol retoma a cor dos dias e recusa pôr-se em cada fim de tarde.
vai. descobre os salões das prostitutas de luxo nos casinos soberbos, sem que
lhes toques na auréola do vestido. esse é o espaço dos cínicos que roubam o pão
aos pais dos meninos que morrem juntos nos campos de refugiados ou o limbo onde
burgueses e beatas largam o seu bafo.
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