Tributo ao Zeca a Afonso
Sopra o vento pelas praias do mar
Mar de mar
O poema solta-se do cárcere em voo de gaivota
Zeca:
Viemos mais cinco
A música tem o gosto colado das Astúrias
Trouxe outro amigo também. E ainda outro e mais outro…
Viemos muitos mais
O Coro dos tribunais
E, às voltas, como um andarilho
Andamos ainda, vê bem, à procura de quem pintou
este maduro Maio
Ah, mas eu vou ser como a toupeira Fura Fura
Trilharei Portugal
Rasgarei Angola e Moçambique
E se um dia voltar a nascer que seja num moliceiro
Ao teu encontro
Como galinha-do-mato
No gosto verde dos campos
O cheiro rosado das amoras…
Sorvendo-te
Inalando-te
Eu, uma cachopa. Enamorada
Toda enamorada!
Descalça das minhas tamanquinhas, o vestido no regaço
É apenas um salto entre duas rias na barquinha d’Aladim
Entre terras e muralhas, noites e alvoradas, esta mulher lá do Minho
das sete que te fadaram.
Que seja mais um poema o filho da madrugada
O poema sobre quem ainda sopra o vento
do canavial
Solta-se o tempo!
As pétalas escrevem-te na pauta dos sentidos. Estás aí
No vento que foi
Entre o sol e a lua
E na Fuzeta a noite nua. Toda nua: Achega-te a mim
Sou a tua Maruxa.
Nas azenhas a serenata proibida. És tu
Em Vilar de Mouros.
No “Cantar de Emigração” de Rosalía de Castro
E o teu nome escrito. Em Santiago
Nas vilas morenas à espera de serem Grândolas
No vento que ainda não veio
Que se cale a cabra dos doutores na hora das baladas
e canções.
E não me obriguem vir para a rua gritar:
- Venham enlaçados de mãos dadas semear o amor –
Maçaroca, milho verde nas margens deste rio que é pai
Galiza pátria.
Adelaide Graça
Vigo (Verbum) 21/05/2009
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