terça-feira, 1 de novembro de 2011

                                       


 Adelaide Graça nasceu a 6 de Abril de 1952
em Campos, Vila Nova de Cerveira.
Tem trabalhos publicados em vários jornais.
E tem já uma considerada obra em poesia.




Queria


Queria tanta coisa
que as palavras já
não transmitem.
Os getos já vacilam
porque não suportam
tanto querer.


O sorriso já não ri
porque o rosto está cansado.
As mãos quase não agarram
porque quase tudo vai fugindo.
Os olhos, esses...
ainda brilham
porque o coração
não deixou de amar.


* Limites da Razão







 

Nascido a 10 de Maio de 1956
em Salto, Montalegre.
Investigador e poeta, Artur Ferreira Coimbra
possui uma vasta obra em poesia e prosa.
É Mestre em História das Instituições
e da Cultura Moderna e Contemporânea
pela Universidade do Minho.



Com o Aroma das Rosas




Com o aroma das rosas
te escrevo o meu amor
Desenho-te em vogais
de pétalas ao encontro dos seios
Adoro-te em sílabas
de verde
como se cantam
as madrugadas da paixão
As curvas do teu sorriso
acordam os pássaros
quando a primavera regressa
carregada deste azul inteiro
de gostar de ti
As horas passam as noites
as memórias as esperas do olhar
E o coração não pára
de te escrever por dentro de mim.


* Olhares

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

 


Joaquim Luis Ramos
Nasceu no Alqueva, Portel, em 1926
Poeta popular.






As migalhas dos pobres
Do seu salário rirados
Fazem ricos e brugueses
Fidalgos e morgados

Quando morre é esqueciso
E na terra sepultado
As migalhas dos pobres
do seu salário tirado

É o braço do pobre
É quem cria a riqueza
Tudo lhe tiram não de dão nada
É sempre dele a pobreza

Podia ser mas não é
Para todos o mundo uma beleza
É o braço do pobre
É quem cria a riqueza

sábado, 22 de outubro de 2011





António Gedeão - pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama Carvalho
Nasceu em Lisboa a 24 de Novembro de 1906
Poeta e Professor




Quando Choro

Eu quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.



terça-feira, 18 de outubro de 2011


                                               


Manuel Alegre de Melo Duarte
nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda.
Escritor e Poeta
Foi candidato a Presidente da República


                                               

As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.





quinta-feira, 13 de outubro de 2011




Escritor e poeta
Carlos de Oliveira, nasceu em Belém do Pará, Brasil
a 10 de Agosto de 1921,
Veio para Portugal com 2 anos de idade


Nevoeiro

A cidade caía
casa a casa
do céu sobre as colinas,
construida de cima para baixo
por chuvas e neblinas,
encontrava
a outra cidade que subia
do chão com o luar
das janelas acesas
e no ar
o choque as destruía
silenciosamente,
de modo que se via
apenas a cidade  inexistente.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011




Fernando pinheiro, nasceu na Ucha,
Barcelos, em 1949.
É autor duma Obra multifacetada
que vai da poesia ao romance.
Tem um percurso admirável pelo teatro





Baixo-Relevo

Tenho o talhe duro do granito
que aflora no cume da montanha
e no horizonte permanece altivo
por sóis, chuvas e vento fustigado

Sou deste sítio de encantamento
onde vivo firma com um carvalho
unido à Terra do Sentimento
pra cumprir obediente o meu fado

Burilou o Tempo estes sinais
que trago esculpidos no meu corpo
linhas, perfis, fontes naturais

e na alma uma cruz gravada a fogo.
Passai a mão neste baixo-relevo:
Levai-me convosco na ponta dos dedos

                                             * Oratório Profano

terça-feira, 11 de outubro de 2011


 

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas Rato.
Nasceu na Atalaia, Fondão, a 19 de Janeiro de 1923.
 Autor de uma fabulosa obra poética









Respiro o teu corpo
Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer
sabe a cal molhada
sabe a luz mordida
sabe a brisa nua
ao sangue dos rios
sabe a rosa louca
ao caír da noite
sabe a pedra amarga
sabe à minha boca

domingo, 9 de outubro de 2011




Sebastião Alba - pseudónimo 
de Dinis Albano Carneiro Gonçalves
Nasceu em Braga a 11 de Março 1940
Poeta sem abrigo.
É autor de uma considerável obra poética




Os Bruxos


Em alguns de nós, o olhar
queda-se paralelo
ao do mocho
que há muito do ombro
nos voou.


Estas pálpebras
humedecem os olhos
como ninguém o faz
a uma fronte.


Em seu reduto,velam


reparando
a luz das trevas




sábado, 8 de outubro de 2011

                                                    


José Carlos Ary dos Santos
nasceu em Lisboa, a 7 de Dezembro de 1936.
Poeta e talentoso Declamador
venceu, entre outros prémios, o festival RTP da canção





De Palavras

De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pre-feitos blocos de cimento.

De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso, a consciência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.

De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro do que digo.

Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
expressão da multidão que está comigo.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011


Jerónimo Fernandes (Jerónimo)
nasceu em S. Julião de Passos, Braga
a 14 de Outubro de 1935
Artista plástico e poeta
é autor de uma fabulosa obra




O meu universo

Tenho um universo
meu.
Só meu.
Não se passa
não se vende
nem lhe ponho escritos na janela
nem nos jornais anuncio: «pr'alugar»...

O universo sou eu.
Só eu
e cá dentro (pra morar)
Só eu

Egoismo?
Não!
Venha daí alguém
      que me queira amar...

terça-feira, 4 de outubro de 2011



Sofia de Melo Breyner Andresen
nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919
Recebeu vários prémios literários
donde se destaca o Prémio Camões - 1999
Depois do 25 de Abril, foi deputada à Assembleia Constituinte


                      III

Á luz do aparecer a madrugada
Iluminava o côncavo de ausencias
Velas a demandar estas paragens

Aqui desceram as âncoras escuras
Daqueles que vieram procurando
O rosto real de todas as figuras
E ousaram  - aventura a mais incrível  -
Viver a incerteza do possível

                                 *    Navegações

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Nascido em Mangualde, em 1940
Jorge Ulisses possui o curso complementar de Escultura
da Escola Superior de Belas Artes do Porto.
Tem inúmeras exposições individuais e colectivas
em  Portugal e no Estrangeiro.
Está representado em colecções públicas e privadas
na Europa e nos EUA



Cena Infantil - 1982

domingo, 2 de outubro de 2011

                       
Ficcionista e poeta, Jaime Ferreri
nasceu em Bravães, Ponte da Barca, em 1946.
Professor e encenador,
tem um percurso literário brilhante
em que predomina o romance





Pecado

Pediste-me um poema...
Mas se um poema meu 
rimasse contigo
num beijo terno
ou num abraço longo
sentiria a percorre-me o corpo
o sentido do pecado
com que, ladina, me adivinhas...
com que, Eva, me tentas...


            * Pecúlio
               Jaime Ferreri





sábado, 1 de outubro de 2011




Cláudio Lima é pseudónimo de Manuel da Silva Alves.
É natural de Calvelo, Ponte de Lima.
Nasceu em Abril de 1943.
Dado à poesia e à prosa, é autor de uma larga obra
de elevado nível literário.









o eco dos limos
sabem a lágrimas de marujos ternos
as longas franjas de seus braços mortos


descompostos como velhas mães
sacrificam na praia os seus presságios


o frescor ácido de seu corpo mole
é a química provisória dos naufrágios

                           Cláudio Lima  (A Foz Das Palavras)


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Transfigurações

o arco
em transe
sobre o fogo
fica


próximo
as cordas
rangem
ante o afago 
das mãos


por hoje
a tarde
já se despediu

domingo, 25 de setembro de 2011



Atualidade


A classe que ontem fez dos nossos avós escravos
é exatamente a mesma que hoje prepara o fardo pesado para os nossos netos

sábado, 24 de setembro de 2011

Aqui de Novo


Chegou o outono e acontece o regresso a esta página. Para continuar.
O rumo será o mesmo. A mensagem, essa, até pode ser outra. Na rota: Obra & Autores



terça-feira, 8 de março de 2011

Mulher



Não sei se és a partida se o regresso
se um barco ao largo das águas de Veneza
o olhar de uma gaivota em alto apreço
à grandeza que tens porque és beleza

Não sei se és mulher se apenas musa
ainda não sei quem és quando adormeço
quando as palavras tomam forma lusa
num verso que me inspiras, que te ofereço.

Não sei se és um poema se uma ilha
se és proa de um navio ancorado
estrela que adormece quando quer.

Então caminho em direcção à quilha
e já perto do cais onde aportar
vejo finalmente que és mulher








sábado, 5 de março de 2011

É bom viver assim

Sou um homem feliz: digo o que quero e o que penso.
Faço uso da minha liberdade, com nota máxima de respeito.
Às vezes, insurjo-me contra os políticos e os poderosos,
sabendo que eles não gostam de me ouvir. E odeiam-me.
Mas, à pertinência, recebo o aplauso dos que estão comigo,
dos que são livres como eu, dos que têm a consciência tranquila.


sexta-feira, 4 de março de 2011

Murmúrio Leve

Era já tarde. Pela rua, um saco plástico rastejava levado pelo vento.
Cheirava mal - o saco plástico. Um homem irritava-se e murmurava.
Dizia qualquer coisa como falsidades, ganâncias e falcatruas.
insurgia-se contra as  políticas velhas destes políticos novos.
Destes que falam, falam... e de quem já nada  se pode esperar.
Só os endinheirados, os bem instalados e os cínicos aplaudem.
É ainda cedo. Pela rua, montes de feses de animais e palha seca.
Volta a cheirar mal. Todos cospem para a rua onda passa a procissão.
O homem cuspido na rua já nada diz. Já não murmura. Já não existe.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Licor de Amoras



O sol aquecia os silvados
e só mais tarde colhíamos as amoras
rente aos muros dos dedos

As borboletas pareciam afastar-se
mas ficavam
olhando as nossas mãos tingidas

Só as aves, como nós, sorriam
na exacta hora da partida
e o licor bebiam,  das amoras.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O nome do fruto

Junto ao rio o nome do fruto
estendia-se pelo orvalho das manhãs
e o preconceito advertia o olhar:
essa tarde era de vontades proibidas.

As horas passaram desenhando pecados
que nunca o foram pelo fruto
ou esse desejo louco - O meu
que te segurava os seios com mãos.

Junto dos dos salgueiros
só me deste os lábios carnudos 
mas o fruto ainda estava proibido.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


        
Cláudio Lima (Manuel da Silva Alves)
Poeta - Nascido em Ponte de Lima
e residente em Braga 

Precariedade

Um poema amadurece como as uvas
sem pressa para além da sua pressa
como quem só regressa
chamado pelo sol ou pelas chuvas.

Mas enquanto as uvas apuram sua casta
seu fogo haurindo em elfa vinhateira
meu poema é chama que se gasta
em frouxa e efémera fogueira.

                        (ITINERÂNCIAS)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

BPN


       Os banqueiros, e esta nova geração de políticos falam a brincar...
como se não soubessemos que vamos ser nós a pagar os 500 milhões.
Seria mais sério não o terem dito... e com que lata!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Em véspera de Reis

Com ouro, com mirra e com incenso, em véspera de Reis, o que dos nossos políticos podemos esperar para 2011, é mais insegurança, mais desemprego, mais fome, mais baixas pensões de reforma, piores condições de vida, pior assistência médica e medicamentosa. Enfim, um sem número de coisas que nem ao diabo lembra. Porra para isto!
A pensar no impropério, dizia a velha do Adro que, apesar de tudo, é bem melhor ouvir cantar o Zé Cabra, para fazer rir, a ouvir o presidente da CIP falar da crise, para chatear. O primeiro é um pateta que não sabe o que canta; o segundo é um tanso que sabe o que quer: Rever as leis laborais. Isto é, mais horas de trabalho, menos salário e despedimentos sem indemnizações. Assim, bem podem continuar a comprar Porsches, Jaguares e palacetes que, à laia da crise, nunca o grande patronato viu as suas contas bancárias subirem tão altos patamares financeiros. Até quando?
Na ausência dos Reis Magos, agora só os adivinhos da nova era (“os Mercados”) uns quantos caquécticos gananciosos que põem o mundo de cócoras, a Europa à beira da falência e os governos a arderem nos altos-fornos da promiscuidade.
E nós padecentes e pagantes, no dizer de Boaventura de Sousa Santos, somos as vítimas de um crime que eles cometem contra a humanidade. Porque tanto nos calamos?