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Confesso que nunca vi tanto banqueiro a botar faladura.
E ele é disparate sobre disparate! Falam e, o que dizem,
preocupa-me. Como esta do «ai aguenta, aguenta!»
Pois é... já nos tiraram a casa, já nos roubaram os móveis
e agora querem-nos na rua... sem abrigo.
Manuel António Pina - Português
Nasceu no Sabugal, 18 de Novembro de 1943
Poeta e Jornalista
Recebeu o Prémio Camões
O Medo
Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.
É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.
Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?
Vai lá, Maria.
Maria sem pão
sem unha ou dedal
sabes quem te rouba:
Os do Capital.
Os barriga cheia
que estão no poder
dizem-te que é
crise
que tens que
sofrer…
Roubaram-te emprego
Maria que choras
com vergonha e medo
aqui já não moras
Roubaram-te o riso
os brincos e a
graça
Maria que choras
despida na Praça.
Roubaram-te anéis
vão-se agora os
dedos
Maria estás fria
na sombra dos medos.
Roubaram-te a casa
o sonho, os
andilhos…
E agora na rua
a pedir prós filhos.
Vai. Vai lá Maria
levanta essa Praça
Junto ao parlamento
mostra a tua raça.
Vai. Vai lá Maria
começa a cantar…
São uns filhos da
mãe.
Vais pô-los a
andar…
Álvaro de Oliveira