sábado, 27 de março de 2010

Canção de Graça

Pesquei um peixe no mar
e dei-o ao meu amor.

Que dizes tu,  minha graça?

Depois dei-lhe o meu olhar
por sobre as ondas do mar.

Que dizes tu, minha graça?

Dei  o  olhar ao meu amor
e dei-lhe um peixe do mar
depois  perdi minha graça.

Que dizes tu, meu amor?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Um Bispo do Povo - Um Servo de Deus



























Monsenhor Óscar Romero -1917 - 1980


Há  trinta anos, monsenhor Óscar Romero foi assassinado
por um atirador de elite do exército salvadorenho,
em pleno altar, no dia 24 de Março de 1980,
quando celebrava missa.
Este Bispo, nas suas homilias, denunciava as
violações de direitos humanos em El Salvador
e foi sempre solidário com as vítimas de violência política,
defendendo, dentro da igreja, a teologia da libertação.

domingo, 21 de março de 2010

POESIA

a poesia está no teu olhar
é flor na madrugada o rio a margem
é o lusco-fusco a noite é o luar
a estrela da manhã a bela imagem


é o sol as mãos suor orvalho vento
a poesia habita nos teus braços
rugas cabelo branco o próprio tempo
todos os anos dados nos teus passos


é melodia amêndoa doce o espaço
sem espaço é a demora é o cedo o tarde
a poesia é o teu e o meu abraço
nesta imensa fogueira que em nós arde

quinta-feira, 18 de março de 2010

Pai, todos os dias são teus

Acordei cedo, tomei a sua foto e, como já noutros tempos o
fizera, dei os bons dias ao meu Pai. Creio que me tenha ouvido e
respondido com aquela serenidade de sempre: «Bom dia meu filho.»
Não tenho a certeza, mas pareceu-me que o ouvi. Não meço distâncias.
Sei apenas de proximidades e conheço o timbre da sua voz, nestes vinte
anos que passaram, com o peso da sua ausência.

A manhã estava para esperas e demoras, com o sol virado ao amanhecer
das aves que levantavam voos dispersos, como dispersos foram os meus
passos no perdido gesto da sua despedida.

Neste dia, fez-se silêncio sobre o seu túmulo. Não lhe disse: Olá, Pai!!!
Não o beijei, não lhe dei uma flor. Apenas nos olhamos:
ele, da sua foto; eu, para a sua foto, numa discreta cumplicidade de palavras que só nós soubemos entender.

Chegou a hora da partida. Acenei-lhe com a mão num gesto quase imperceptível e ia dizer-lhe: Volto cá amanhã e depois de amanhã,
porque todos os dias são teus. Nada lhe disse. Nem aquele «Até já, Pai.» Ou a recomendação: dá um beijo meu à Mãe. Depois pensei:
tens a Mãe junto de ti e sei que estás rodeado por muitos amigos,
num perfeito convívio de santos. E nós, por cá, em ciclos de ódio, ainda construímos o nosso inferno. Nada lhe disse. E tanto lhe queria dizer. Fazer-lhe esta confidencia: Olha, Pai, tenho muito orgulho nos meus filhos:o Álvaro e a Célia. Que conheceste... Eles amam-te.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Licor de Amoras

O sol aquecia os silvados
e só mais tarde colhíamos as amoras
rente aos muros dos dedos


As borboletas pareciam afastar-se
mas ficavam
olhando as nossas mãos tingidas


Só as aves, como nós, sorriam
na exacta hora da partida
e bebiam o licor de amoras.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Poema à Mulher

Mulher




Não sei se és a partida se o regresso
se um barco ao largo das águas de Veneza
o olhar de uma gaivota em alto apreço
à beleza que tens porque és beleza

Não sei se és mulher ou apenas musa
ainda não sei quem és quando adormeço
quando as palavras tomam forma lusa
num verso que me inspiras e que ofereço.

Não sei se és um poema ou se uma ilha
se és proa de um navio ancorado
estrela que adormece quando quer.

Então caminho em direcção à quilha
e já perto do cais onde aportar
vejo finalmente que és mulher.


                            (Baladas de Orvalho)

sábado, 6 de março de 2010

São uns Pulhas

Os pulhas que levaram este país à banca rota
com batota na gestão de empresas, levando-as à falência,
os mesmos que fugiram ao fisco e compraram carros topo de gama
e iates de luxo, aparecem agora preocupados a botar faladura
a propósito da crise que eles próprios criaram.
Vai daí, é vê-los a lançar veneno para a solução:

1 - Subir aos impostos
2 - Reduzir aos salários
3 - Suspender as pensões
4 - Cortar subsídios e demais regalias sociais
5 - Aumentar o número de horas de trabalho
6 - Aumentar a idade da reforma

E muito mais... sempre com as mesmas vítimas.
Estes trastes não falam nos seus chorudos vencimentos
nem nas suas gordas reformas.
Eles, que sempre viveram à custa de quem trabalha,
não falam em cerca de um milhão de desempregados
que atiraram para as ruas da amargura.
Enfim, é isto que temos nesta sociedade capitalista.
Ou nesta ditadura da "democacia".

quinta-feira, 4 de março de 2010

Poeta sem abrigo


Sebastião Alba, 1940-2000


Não sou anterior à escolha
ou nexo do ofício
Nada em mim começou por um acorde

Escrevo com saliva
e a foligem da noite
no meio de mobília
inarredável

atento à efusão
da nénoa na sala

Sebastião Alba
(Uma Pedra ao lado da Evidência)

quarta-feira, 3 de março de 2010

A Ustória Arte

Já li Garcia Lorca, cantei Mozart
já li um verso meu na despedida
e fiz da minha vida uma outra arte
na minha arte refiz a minha vida

E fiz dois filhos no luar de Agosto
duas velas: há luz no meu caminho!
Vivo agora no meio de quem gosto
no meio de quem ama e tece o linho.

Fiz das palavras rudes duas rosas
minha mulher amada e minha dor
Áh!  Poesia que me rasga o peito.

E à noitinha pelas giestas losas
vem visitar-me a musa do amor
fazer amor comigo no meu leito.