De Mãos Atadas
Álvaro de Oliveira
Ele
há coisas que não dá para acreditar. Às vezes até penso que não estou a viver o
real ou começo a imaginar que a realidade já não existe. De facto, os
acontecimentos de maior aflição ocorrem, exactamente, quando menos por eles
esperamos. Tamanhos, que logo os procuramos esquecer para evitar fortes
enxaqueca ou colapsos cardíacos: os cortes da luz, da água e do gás por falta
de pagamento, a somar às prestações da casa, em atraso, e o banco já a mover acções
de despejo para sacar a casa e ficar com o dinheiro que, por ela, já recebeu.
Coço
a cabeça enquanto penso: Que fazer agora sem emprego, sem meios de poder dar
volta à vida? Pedir? Procurar um Centro de Solidariedade para comer, por esmola,
a tigela da sopa? Mas é isso que pretendem os nossos governantes? Uma sociedade
de desgraçadinhos e pedintes, enquanto alguns políticos, que já romperam as calças
na cadeira do poder, desviaram e desviam, à má fila, o dinheiro que era nosso?
Era digo eu, e são muitos e muitos milhões. Quem os penhora? Quem tem a coragem
de lhes cortar a luz? A água, não. Essa mata a sede, mas não mata a vergonha. Continuam
livres, ganham vantajosas subvenções, habitam na grandiosidade dos seus
palácios, passeiam-se em luxuosos carros, fumam charuto e gozam à farta. Em
suma, dou pela recente criação de três novas classes sociais: os que roubam… os
que dão… e os que pedem. “Custe o que custar”, diz o jovem lá do alto. E nós de mãos atadas a tapar a cara.
Álvaro de Oliveira
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