quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Caminhando Sobre Mim


Se me perderes, encontrar-me-ás caminhando sobre mim com os passos virados para Norte: a mochila às costas, o cabelo despenteado, a barba de cinco semanas e um ar cansado.
Armo a tenda longe da estrada para evitar a poluição dos carros. E alimento-me de palavras que, ao acaso, vou inventando.
Depois sento-me encostado ao tronco de uma árvore com o chapéu colocado sobre o rosto.
Os cães ladrão à minha passagem e as pessoas olham-me com desdém. É então que recordo a doída agressão à minha liberdade de imprensa e aquele falso argumento da acusação: “... Por desvios editoriais.” Disseram-me. Que é isto? Não obedeço a qualquer jarreta que se preze ao toque da censura. E escrevo. Escrevo sempre. Até parece que não sei fazer outra coisa.
Se calhar, é por isso que detesto os que se dizem vítimas e perseguidos, tanto como aqueles que se rotulam de democratas.
Já sabes. Se me perderes, encontrar-me-ás caminhando com os passos virados para Norte, com um poema registado em cada mão.

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